A lei é antiga, mas agora que o governo estadual está disposto a exigir  seu cumprimento rigoroso, o comércio ficou em alerta. A Secretaria da  Fazenda (Sefaz) anunciou, na última segunda-feira, que vai suspender por  até 60 dias e pedir o fechamento daquelas empresas que não estiverem  emitindo nota fiscal e forem autuadas pela terceira vez consecutiva no  prazo de um ano, conforme expressa a Lei Estadual nº 12.670, de 27 de  dezembro de 1996.
Para representantes do comércio, a medida é uma  ameaça à atividade formal, enquanto a informalidade avança, minimizando  a arrecadação estadual.
Entendimento
De  acordo com o presidente da Fecomércio-CE (Federação do Comércio do  Estado do Ceará), Luiz Gastão Bittencourt, essa ação mais incisiva do  Governo representa uma "pena de morte para as empresas". Para ele, o  comércio formal não pode ser apenado pela informalidade. "O governo tem  que resolver o problema da informalidade. Não é o formal, porque cometeu  um lapso, um erro, que será punido", enfatiza.
Conforme explica,  existem muitas variáveis que podem levar um estabelecimento a não  emissão do cupom fiscal. "Se um funcionário meu não emitir uma nota por  erro, eu vou ser penalizado? Se tiver um funcionário teu com raiva e não  emitir uma nota fiscal de uma compra, e aí? A empresa vai ser  finalizada?", questiona. 
O vice-presidente da Federação, Ranieri  Leitão, entende a intenção do governo de inibir a sonegação, mas  discorda de ações que acarretem no fechamento de estabelecimentos. "As  empresas representam grande suporte ao emprego do cearense, então não  vejo por quê fechá-las. Sou de acordo que se tome medidas que inibam a  sonegação e uma atuação firme, mas não deveria se pensar em fechá-las",  diz.
Airton Boris Ponte, diretor do Sindilojas, ressalta que a  medida não é nova, mas que deveria ser cobrada também no combate das  vendas nas calçadas. "A sonegação não está no comerciante, mas no  camelô, no meio da rua", avalia.
A fiscalização também atingirá  os bares e restaurantes cearenses. Segundo o presidente da Abrasel-CE  (Associação de Bares e Restaurantes), Augusto Mesquita, a tendência é  que o rigor aumente, mas frisa que é necessário uma atuação mais firme  contra os ambulantes.
A reportagem entrou em contato com a  assessoria de imprensa da Sefaz, que informou não ter conseguido  localizar o secretário, Mauro Filho, até o fechamento da edição.
Impacto
"Não existe pena de morte, mas vamos criar a pena de morte para as empresas"
Luiz Gastão Bittencourt
Presidente da Fecomércio-CE
"A venda sem nota no comércio informal é maior que a de quem paga imposto"
Airton Boris Ponte
Diretor do Sindilojas
"Tem feira de ambulantes que não paga nada no Centro da Cidade"
Augusto Mesquita
Presidente da Abrasel-CE
COM REAJUSTE
Corte no custeio gera preocupação a servidores
O  corte de R$ 500 milhões no custeio da máquina pública em 2011 gerou  preocupação para os servidores do Estado. O anúncio de contenção de  despesas foi feita na última segunda-feira pelo secretário da Fazenda do  Ceará, Mauro Filho.
Para o coordenador geral do Sindicato dos  Trabalhadores no Serviço Público Estadual do Ceará (Mova-se), José  Airton Lucena Filho, esse corte pode repercutir na campanha salarial  deste ano, que foi antecipada para este mês de janeiro.
A data  base da categoria, até 2010, era no mês de julho, mas o governador Cid  Gomes convoca a Assembleia Legislativa na segunda semana de janeiro a  fim de apreciar a mensagem que prevê a antecipação da data base dos  servidores do Estado e a proposta de reajuste que será calculado sobre a  inflação dos meses de julho a dezembro de 2010, mais 2% de aumento  real.
Segundo Lucena, o sindicato ainda estuda esta proposta.  "Estamos discutindo esta proposta. Temos uma assessoria econômica para  chegarmos a um percentual, de acordo com a Lei de Responsabilidade  Fiscal", afirma. Pelos cálculos do coordenador geral do Mova-se, o  Estado deve ter um quadro de prestadores de serviço que representa entre  o dobro e o triplo do funcionalismo efetivo. 
"Nossa principal  torcida é que se diminua o número de terceirizados e que se contrate por  concursos", afirma. "É mais barato para o governo". Lucena diz ainda  que o corte nas despesas soa como uma incoerência. "O governador disse  que não há crise, que o Estado está saneado. Como é que é preciso fazer  cortes?", questiona. "Não dá para entender. Nossa preocupação é que este  anúncio de corte vá resvalar na campanha salarial dos servidores",  justifica.